Os referendos propõem tornar mais fácil para os filhos de estrangeiros nascidos em Itália obter a cidadania e proporcionar mais proteções no emprego, mas a aparente falta de conhecimento da população corre o risco de invalidar os votos se a participação não for suficientemente elevada, escreve a agência norte-americana de notícias Associated Press (AP).
Os defensores da alteração da lei da cidadania afirmam que a mudança ajudará os italianos de segunda geração nascidos no país, filhos de pais não europeus, a integrarem-se melhor numa cultura que já consideram sua.
As novas regras, se forem aprovadas, podem ter impacto sobre 2,5 milhões de pessoas que ainda não são reconhecidas como cidadãs.
Na prática, os italianos vão votar em cinco referendos de revogação, ou seja, para a eliminação total ou parcial de uma norma, relativa a questões de obtenção de nacionalidade e de direitos laborais.
Os três partidos que formam o Governo de direita radical são contra as alterações propostas e em vez de estarem a fazer campanha pelo voto contra, estão a encorajar as pessoas a boicotar a consulta, de modo a que não se alcance o quórum de 50% mais um voto para que seja válida.
Nos 29 referendos realizados em Itália desde 1995, apenas quatro superaram o quórum de 50% de participação para serem considerados válidos.
A posição assumida pelos partidos Irmãos de Itália (pós-fascista), da primeira-ministra Giorgia Meloni, e pelos parceiros de coligação governamental, a Liga (extrema-direita) de Matteo Salvini, e o Força Itália (direita), de Antonio Tajani, está a merecer fortes críticas dos partidos da oposição, indignados por as forças políticas no poder fomentarem a abstenção.
Promovida por Riccardo Magi, deputado do partido progressista Mais Europa, numa iniciativa a que se juntaram outros partidos, associações e sindicatos, e que conseguiu recolher perto de 640 mil s, a consulta referente à cidadania tem como principal objetivo reduzir de 10 para cinco anos o período de residência regular necessário para requerer a cidadania, e, uma vez obtida, poder transmiti-la aos filhos menores.
As outras consultas, sobre alterações à lei laboral, são apoiadas pelo maior sindicato do país, a CGIL, e visam reforçar a proteção do emprego e a segurança no local de trabalho.
Por exemplo, através da revogação da regra segundo a qual as pessoas contratadas após 07 de março de 2015 em empresas com mais de 15 trabalhadores não devem ser reintegradas nos empregos após um despedimento sem justa causa, mesmo que um juiz assim o decida, e da eliminação do limite de indemnização para os trabalhadores despedidos sem justa causa em pequenas empresas.
Estando também contra as propostas em matéria laboral, o Governo de Meloni opõe-se em particular a alterações à lei sobre os requisitos necessários para que um adulto nascido no estrangeiro possa requerer a cidadania.
Enquanto os promotores e apoiantes do referendo argumentam que a alteração à lei tornaria cerca de 2,5 milhões de pessoas elegíveis para a cidadania e seria um reconhecimento da contribuição dos estrangeiros, além de que ajudaria a compensar o declínio da taxa de natalidade em Itália -- dos países mais envelhecidos da Europa --, os partidos de direita e extrema-direita no poder, que têm como uma das principais bandeiras o combate à imigração, rejeitam "oferecer numa bandeja de prata" a cidadania italiana a milhões de estrangeiros, tal como afirmou recentemente Matteo Salvini.
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