"[A solução] é o conselho nacional reunir-se, agendarem a data do congresso e depois disso tudo o povo escolher o líder que vai nos levar avante. [Ossufo Momade] não, não pode continuar no partido (...) como líder, pode-se dar um outro cargo, menos de liderança", disse o antigo comandante Sebastião Chapepa, citado hoje pela comunicação social local, falando em frente à delegação da Renamo na província de Manica, centro do país, também encerrada por antigos guerrilheiros, em protesto.
O Conselho Nacional tinha sido marcado para 07 e 08 de março, mas foi adiado sem ter nova data.
O histórico, que se autointitula um dos primeiros a disparar na guerra dos 16 anos, em 1977, que opôs a Renamo às forças governamentais, crítica o silêncio e a falta de "movimento" de Momade face à situação do partido.
"O que ele faz de errado é estar calado, não movimenta. Recebe dinheiro e está aí a fazer vida em Maputo, a dançar e mais nada", disse Chapepa, referindo que a atual crise do partido é causada por pessoas que "não sabem como a Renamo começou".
Em causa está a crise que se vive na Renamo, conduzida atualmente por antigos guerrilheiros que exigem a demissão de Ossufo Momade por alegada "má gestão", falta de pagamento de pensões e subsídios e falta do fundo de funcionamento da formação política.
Várias delegações do partido estão encerradas em todo o país, incluíndo a sede nacional e o gabinete de Momade, estes dois últimos edifícios ocupados por antigos guerrilheiros em protesto entre 15 e 28 de maio, até serem retirados a tiro e gás lacrimogéneo pela Unidade de Intervenção Rápida moçambicana.
No ado dia 05, na sua primeira aparição e declaração pública em mais de três meses, o presidente da Renamo, Ossufo Momade, afirmou ser uma "grosseira afronta" aos princípios do partido o encerramento das delegações e da sede, pedindo união e alertando que as desavenças públicas abrem espaço para os opositores "fragilizarem" a formação política.
"Os acontecimentos mais recentes dentro do partido envolvendo pretensos desmobilizados não só preocupam a liderança do partido, os membros e simpatizantes, os moçambicanos em geral, como representam uma grosseira afronta aos princípios mais elementares da democracia e da Renamo", disse Momade, durante a conferência nacional dos combatentes, em Maputo.
O presidente da terceira força parlamentar criticou ainda as ações "ilegítimas" dos antigos guerrilheiros e pediu o fim de tudo o que promove discórdia dentro do partido.
"Se o nosso desejo é o crescimento e manter o funcionamento normal do partido, como é que vamos atingir esse objetivo com as delegações e a sede nacional fechada? Por isso, [é] preciso virar a página e trazer a Renamo unida", disse.
Ossufo Momade assumiu a presidência da Renamo em janeiro de 2019, após a morte de Afonso Dhlakama (1953 --2018), e foi reeleito para o cargo em maio de 2024, num processo fortemente contestado internamente.
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro, ando de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares.
Momade foi candidato presidencial nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024, obtendo 6% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido, que foi a principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições em 1994.
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
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