"Por tudo o que fez, merece que possa selar o trajeto com uma vitória no escalão. Se há alguém que merece, ele é um deles. Tem a ver com a persistência, a quantidade de anos que leva, o trabalho, os resultados fantásticos que tem tido e, depois, aquilo que produz com jogadores que mais tarde chegam à seleção 'AA'", avaliou à agência Lusa o técnico.
Recordista de jogos (123) e triunfos (88) no banco dos sub-21 nacionais e caso único de longevidade no escalão, Rui Jorge liderará Portugal pela quinta vez na prova, após duas finais perdidas (2015 e 2021) e 'quedas' na fase de grupos (2017) e nos 'quartos' (2023).
"Como jogador e até cá fora, sempre foi uma pessoa muito calma, serena e observadora. Não me surpreende este trabalho e os resultados. Vejo nele a ambição de incutir no espírito dos atletas que a primeira coisa é jogar para ganhar. Depois, se for possível produzir bom futebol, tal como tem sido na maioria das vezes", reconheceu Nelo Vingada, que comandou Rui Jorge nas seleções olímpicas, em Atlanta1996, e de sub-21.
Com contrato até ao fim do Europeu, o ex-internacional português tenta um inédito troféu, que até podia ter chegado em 1994, com Nelo Vingada, não fosse um golo solitário já no prolongamento de Pierluigi Orlandini dar o êxito à Itália (1-0), em Montpellier, na França, batendo a então 'geração de ouro' lusa, bicampeã do mundo de sub-20 em 1989 e 1991.
"Não terá sido um grande jogo, mas construímos as melhores oportunidades, dominámos e éramos melhores. Assim que começou o tempo extra, o senhor Orlandini mandou um balázio, um 'tiro' fantástico, que não deu hipótese ao Brassard, e o jogo acabou", contou.
Nelo Vingada, de 72 anos, diz que essa derrota "deixou um sabor amargo", sem abalar a afirmação daquela geração, tendo marcado "claramente uma mudança no paradigma do futebol português, que ainda hoje se reflete na consistência e qualidade" do jogador luso.
"O progenitor de todo esse processo, que eu tive o prazer de acompanhar, foi o professor Carlos Queiroz. Provocou uma mudança no pensamento e via um pouco à frente do que era possível fazer, sem esquecer o trabalho que os clubes e as associações realizaram e todas as condições que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) nos deu", considerou.
Pouco mais de três décadas depois, Portugal surge pela 10.ª vez, e terceira seguida, em fases finais do Europeu de sub-21 e desafiará no Grupo C a França, campeã em 1988, a Polónia e a Geórgia, sendo um dos candidatos à conquista do troféu para Nelo Vingada, seguro de que a gestão de opções e expectativas vai ser feita jogo a jogo na Eslováquia.
"Ganhar na estreia face à França será melhor, mas o empate deixa tudo em aberto e vai criar a obrigatoriedade de ter bons resultados com Polónia e Geórgia. Agora, mesmo que a estreia fosse com a Geórgia, seria sempre complicado. É ligeiramente diferente, porque abre o torneio, mas é importante não perder", alertou, vendo um "formato mais generoso, competitivo e abrangente" com a participação de 16 finalistas, contra os quatro em 1994.
Rui Jorge não tem internacionais 'AA' ao dispor, mas o guarda-redes Samuel Soares, do Benfica, e o extremo Geovany Quenda, do bicampeão Sporting, já trabalharam com a seleção principal e serão mais-valias, desde que estejam comprometidos com os sub-21.
"Estão lá para servir a equipa e nenhum atleta se pode pôr acima dela. Nestas alturas, é preciso ter sensibilidade e capacidade para sentar com os jogadores, explicar e fazer ver as coisas como elas são: terem estado nos 'AA' e voltarem agora a um nível inferior não lhes dá a prerrogativa de serem eles e mais 10. É necessário mostrar qualidade", vincou.